Todas as possibilidades de convivência das diversas formas de vida na Terra. A relação humanos - Terra. A relação humanos - humanos. A relação humanos - outras espécies.
A economia Doughnuts baseia-se essencialmente na gestao inteligente dos recursos de forma a assegurar o seu acesso a uma populacao e a uma intervencao regenerativa nos ecosistemas. E aqui que entra a ciencia, a tecnologia e a inovacao. Teremos tambem de fazer um exercicio: A- o que entendemos por economia? A nossa perspectiva limita-a a economia monetaria, ou e abrangente, como em Alvin Toffler, que considera a nao monetaria como igualmente essencial para a manutencao das comunidades? Acha que seria possivel manter uma sociedade a funcionar sem a contribuicao do trabalho nao remunerado e do voluntariado, assim como do papel do consumidor na economia? Outro exercicio: B- o que entende por recursos? Os recursos naturais, os equipamentos sociais, a capacidade de financiamento, e os recursos humanos? A economia Doughnuts implicara uma gestao inteligente, em constante adaptacao e melhoria, com a colaboracao activa de toda a populacao. Todas as pessoas participam na economia, cada uma no seu papel, e em interaccao. Como comecamos a perceber, a partir destes dois exercicios, a economia actual nao e inteligente e as pessoas, como comunidade, nao contam do mesmo modo. Dai os seus profundos desequilibrios, desvios e danos.
Aceitei o desafio de Kate Raworth no twitter, uma investigadora e professora de Oxford, autora da economia Doughnuts (alguns chamam-lhe circular): - implementar a economia Doughnuts numa cidade a nossa escolha com um prazo, 2040; - definir as condicoes essenciais para essa implementacao. Como gosto de desafios que impliquem observacao, analise, reflexao, aplicacao, aceitei o desafio. Como o nosso habitat, a Terra, esta a dar-nos um prazo para nos expulsar de novo do paraiso, e connosco as especies magnificas com que convivemos, antecipei o desafio para 2030. Ainda nao escolhi a cidade, divido-me entre as cidades que conheco e as cidades que gostaria de conhecer. Comecei por definir as condicoes essenciais: 1- uma mudanca cultural profunda: a) do caos actual pouco inteligente para uma organizacao inteligente; b) transparencia da gestao institucional e participacao de todos os municipes; c) envolvimento de toda a comunidade na gestao dos recursos comuns. 2- uma gestao inteligente, aberta, transparente, interactiva, em permanente actualizacao: a) a iniciativa da mudanca parte das instituicoes, envolver a comunidade com informacao clara e em permanente actualizacao nos link do site, sobre: recursos comuns da cidade, empresas de agua, servicos de saude e hospitais, energia, empresas de transporte, tratamento de residuos e lixo, habitacao e area residencial, area empresarial, sector alimentar, escolas, politecnico, universidade, etc. b) informacao sobre recursos financeiros e sua aplicacao; c) os passos a dar para a implementacao da economia Doughnuts na cidade. 3- Iniciativa institucional do primeiro passo: a) para evidenciar que nao se trata de mero anuncio de intencoes, esta primeira iniciativa tem de ser posta em pratica de imediato e responder a uma necessidade premente da comunidade: cuidados de saude acessiveis, transporte acessivel, educacao acessivel, etc, que seja praticavel; b) implementada a iniciativa, o primeiro passo, a comunidade percebe que se trata de uma mudanca real, de um contrato aberto entre os decisores e os municipes. Esta fase e essencial, pois da o sinal de partida para a mudanca.
A partir de um tweet de Elon Musk sobre o grande filtro, entusiasmei-me pelo paradoxo de Fermi. Ate agora, fixei-me nas seguintes limitacoes da nossa especie: - a nossa condicao biologica; - a nossa cultura primitiva de predadores e colonizadores (propria da condicao biologica); - uma civilizacao que destroi o habitat, que se alimenta de recursos que destroem recursos vitais, nao e primitiva? - a nossa historia nao exemplifica a segunda e terceira limitacoes? Barbaros a destruir civilizacoes mais evoluidas? Pensemos em Alexandria. Tambem me ocorreu o seguinte: - uma civilizacao nao evolui do material para o imaterial? - segundo os Vedas, a nossa especie ja esta em declinio. E dai para o seguinte raciocinio: As liderancas mundiais actuais reflectem essa incapacidade de evolucao cultural necessaria a nossa sobrevivencia como especie, da barbarie para a inteligencia colectiva, da mentira que serviu para nos defendermos de predadores para a realidade/verdade/ciencia de comunidades em constante interaccao. A mentira e estupida. Negar a realidade, a ciencia, e estupido. Destruir recursos vitais e estupido. Pode uma civilizacao estupida aspirar a viajar no espaco? Pode, mas ja esta a falhar. Pode comunicar com outras civilizacoes? Em que comprimento de onda? Primeiro tera de saber ouvir o silencio, o silencio do espaco, estender a sua sensibilidade ate ao infinito.
Ontem vi um filme sobre um astronomo obcecado com a possibilidade de existencia de vida noutro planeta com algum grau civilizacional. Primeiro consideram planetas a distancia ideal de uma estrela para a existencia de vida. Depois trata-se de encontrar qualquer forma de comunicacao ou vestigio de intervencao inteligente, isto e, intencional e nao um acaso. A minha obsessao, se assim lhe posso chamar, e encontrar uma prova da existencia de inteligencia na Terra. Considerando a inteligencia como capacidade de adaptacao e evolucao natural para formas de interaccao saudaveis e equilibradas da comunidade. O equilibrio e uma constante vital, uma condicao basica da vida.
O que vemos no nosso planeta e o desequilibrio e o caminho para a extincao. A incapacidade de adaptacao e, consequentemente, de evolucao. E provavel que os Vedas tenham razao e a humanidade nao esteja a evoluir mas em decadencia. Que ja tenham existido uma ou varias civilizacoes inteligentes, so que nao vemos vestigios. Que vestigios nos deixaria uma civilizacao inteligente? Que tivesse capacidade de adaptacao e de utilizacao dos recursos sem os destruir? Que interagisse com a terra, os seus rios, o mar, sem os poluir? Essa e a questao, nao deixaria vestigios, pegadas, lixo. Nao destruiria recursos vitais para o futuro das comunidades. Nao destruiria vida por ignorancia, ganancia ou recreacao.
Como tera desaparecido? Provavelmente por uma qualquer invasao belica de formas humanas menos inteligentes. Basta lembrar Alexandria para imaginar uma identica invasao numa escala infinitamente diversa: uma civilizacao ainda mais evoluida invadida por fanaticos de mentes limitadas ou de belicismo da conquista. Uma civilizacao evolui da materia para o imaterial. Os seus vestigios sao quase imperceptiveis, a alteracao seria sempre benigna e para melhorar equilibrios naturais. As suas comunidades comunicariam atraves de uma linguagem que nao nos e acessivel. As vezes imagino sons de passaros, de baleias, golfinhos, formas de comunicacao mais evoluidas do que a nossa. Um radar, campos magneticos, linhas que se cruzam sem postes ou cabos terrestres. Nao estamos preparados para perceber ou identificar civilizacoes inteligentes. Somos criaturas de mentes limitadas e manipulaveis. Facilmente entretidos com materiais toxicos e destrutivos, tralha, lixo. Destruimos tudo em que tocamos, pessoas, animais, arvores, rios, mar. Desequilibramos as condicoes basicas da vida. Caminhamos como carneiros doceis para o matadouro que pertence a um pequeno grupo de fanaticos viciosos e doentes mentais. E esta a nossa realidade actual e nem capacidade temos para a ver e muito menos para evitar o mesmo destino para as futuras geracoes.
Volto a este lugar, A Vida na Terra, passados 7 meses. E volto ao meu ritual de inicio de um Novo Ano: fazer no primeiro dia o que quero fazer ao longo do ano. O primeiro dia da o sinal de como quero viver o ano todo, em termos de horario, das prioridades, das actividades. Este ano, 2019, tornou-se um ano decisivo no meu percurso por diversas razoes, o que implica decisoes e escolhas fundamentais. Sera como voltar a ser quem fui e quem estava naturalmente orientada para ser, pela minha natureza. Melhor dito, 2018 foi o ano em que fui pegar em mim, lá muito atras, com as memorias de quem sou praticamente intactas, e transportar-me directamente para o tempo actual. Ao longo do nosso percurso somos influenciados inevitavelmente por pessoas proximas, e com muito mais intensidade quando as admiramos pela sua beleza, inteligencia e capacidade de representacao. Somos entao confrontados com uma outra forma de ver e estar no mundo que nao tem a ver com a nossa natureza, mas nao temos coragem de nos afirmar. Alguns de nos escolhem o conformismo, seguem o caminho mais facil, e sao apoiados e valorizados. No meu caso, senti-me num "double bind": nao podia ser a pessoa simples, afectiva, comunicativa, confiante, mas tambem nao podia ser a pessoa conformista, bem sucedida, integrada, valorizada. 2019, pois, e o ano em que finalmente as minhas escolhas e decisoes sao as que importam e prevalecem, em que antecipo em vez de experimentar o conflito ou a vulnerabilidade. Alias, aproveito para introduzir aqui a palavra-chave de 2019: antecipar. Um verbo significa accao: estar atento, alerta, observador, ouvir mais do que falar, recolher a informacao util, e antecipar. Antecipar para se defender, proteger a sua autonomia e capacidade de decidir e escolher. Nas areas fundamentais: saude, familia, amizade, actividade, economia, financas, qualidade de vida. E como a nossa vida na Terra corre cada vez mais depressa e o tempo se tornou sincopado, e preciso desenvolver essas capacidades para nao se ser surpreendido por acontecimentos que nao podemos controlar. Ja nos bastam aqueles que nao podemos mesmo antecipar. Um Ano Novo mais consciente de quem se e, mais confiante em si proprio, para melhor decidir, escolher e antecipar, e o que desejo a todos os que aqui passam na vida na Terra.
A Água d’Alta era uma das propriedades preferidas do meu avô
Jaime Dias, onde ia frequentemente fazer piqueniques com a família.
De referir
que Jaime Dias foi um empreendedor inovador do Orvalho nos anos 30 e 40, nos
sectores da indústria (lagar hidráulico dos mais modernos, moagem e uma empresa de camionagem) e comércio (mercearia).
Além disso, muito contribuiu para o
desenvolvimento do Orvalho (ex.: estradas de acesso) e apoiou muito a comunidade.
Morreu num acidente de automóvel em 1949 e os negócios foram decaindo a partir
daí. No entanto, as propriedades ficaram, hoje na posse da minha mãe, Maria Alice
Dias de Azevedo, como a Água d'Alta.
A Cascata das Fragas da Água d’Alta (Oleiros) é um geomonumento que faz parte de um geopark, neste caso a Geopark Naturtejo que, por sua vez, faz parte do European Geoparks Network e tem o apoio da UNESCO.
A Junta de Freguesia do Orvalho construiu os passadiços, que
infelizmente arderam em Agosto último, mas não teve a delicadeza de informar a
minha mãe da sua inauguração. Em vez disso, pressionou-a para vender a propriedade por um
valor ínfimo.
O valor de uma propriedade não é apenas definido pela sua
área, mas também e sobretudo, pela sua localização e, no caso da Água d'Alta, pela sua importância estratégica na região.
Esperamos que a Câmara Municipal de Oleiros reconheça
que a nossa família não tem sido tratada com equidade relativamente aos outros
munícipes de Orvalho (e posso prova-lo com diversos factos e situações), e
finalmente apresente à minha mãe uma proposta justa e proporcional ao valor real da propriedade da Água d’Alta.
A situação na Catalunha deixou-me perplexa. Tratou-se de um movimento nacionalista? A necessidade de soberania? Um ímpeto de rebeldia republicana? Porque é que vemos comunidades dentro de países europeus a querer reanimar uma identidade própria? Se perspectivarmos esta comunidade num plano mais alargado começamos a compreender a insatisfação actual dos europeus. A forma como a CE e o Eurogrupo responderam à crise financeira de 2008 criou um enorme fosso entre as instituições e os cidadãos. Depois de terem facilitado o comportamento irresponsável dos bancos, logo que a bolha estoirou, impuseram aos governos dos países, sobretudo os do sul, constrangimentos com consequências que nunca pensámos ver na nossa geração: famílias sem casa, níveis de pobreza, trabalho precário e escravo, etc. A Grécia ainda sofre na pele esses constrangimentos, apesar de, em referendo, ter escolhido permanecer na Europa. O que podemos, para já, identificar é a perda de confiança dos cidadãos nas instituições europeias e nos governos dos respectivos países. O único país europeu que está a antecipar-se aos desafios de possíveis rupturas anunciadas é a França. Nesse sentido Macron é um visionário, um futurista, qualidade rara nos políticos actuais. O seu movimento "En Marche" é inovador, com forte implantação cívica, o que cria e fortalece laços comunitários e responsabiliza os próprios cidadãos. A sua perspectiva de Europa é a de uma Europa possível, mas que ainda não construímos. Macron e "En Marche" mostra-nos o que é evidente: temos as tecnologias ao nosso dispor, só nos falta uma nova cultura. As instituições e os políticos mantêm esta ilusão de que as pessoas esquecem como sempre esqueceram, e que em breve, se lhes voltarem a dar um rebuçado, voltam a votar nas mesmas fórmulas mantendo-os no poder. Acontece que a informação e a comunicação já não lhes está subordinada, os cidadãos podem informar-se e comunicar entre si, e há registos, textos, vídeos. A influência dos media tradicionais está a perder-se, os cidadãos já questionam os próprios media, sobretudo a televisão. E como os políticos não são bons a antecipar desafios e a adaptar-se às novas realidades, reagem invariavelmente com a frase defensiva: aí vêm os populismos... Vamos então definir populismo: aquelas promessas eleitorais para não cumprir; apresentar um programa e aplicar outro; festas e arruadas, em vez de reflexão e debates; outdoors de sorrisos forçados que só poluem visualmente; marketing superficial e inócuo. O populista apresenta-se aos cidadãos como o herói que está do seu lado e que o vai salvar (ex.: desemprego, insegurança, etc.), apontando o dedo aos seus "inimigos", os responsáveis pela sua situação (ex.: imigrantes, o governo anterior, etc.). Identificamos Trump, mas também o Brexit, os nacionalismos, e a generalidade dos políticos dos partidos tradicionais. Le Pen exemplifica o nacionalismo na base do populismo, a França alucinada (isto é, que só existe na cabeça de um grupo reduzido de pessoas), quando teve uma economia forte, uma liderança forte, no caso será De Gaulle. O antídoto para o populismo é a transparência e a responsabilidade. A abertura à participação cívica. Quanto ao nacionalismo, se já foi útil bater nessa tecla, hoje já não vibra nos neurónios muito mais alerta e desconfiados dos potenciais eleitores. Na Europa podemos mesmo dizer que já não faz sentido apelar a esse "orgulho nacional". A nossa defesa e resistência aos condicionalismos das instituições europeias já não se resolvem dividindo-nos, mas unindo-nos. A Europa possível ´é aquela que construirmos, porque a actual está a desintegrar-se. Só as instituições não percebem. Ao próximo abanão financeiro, e vai haver um abanão financeiro, as respostas vão ser invariavelmente idênticas às de 2008 em diante, porque os políticos não aprendem nada e muito menos sabem antecipar-se e prevenir o pior. Catalunha surge numa fase de transição de uma Europa de países condicionados para uma Europa de regiões e comunidades autónomas. É essa a tendência lógica. Não serão autonomias formais, políticas, mas económicas e culturais. Não terão fronteiras rígidas mas flexíveis. São fluxos de trocas de informação, de colaboração, que se cruzam num mapa mais amplo. Se o que se passa na Catalunha é um movimento nacionalista, está fora do seu tempo. Se é uma necessidade de soberania, juntem-se ao clube, Todos os países condicionados por Bruxelas sentem a mesma necessidade de voltar a ter algum controle sobre o seu futuro económico. Se é uma rebeldia republicana, olhem para Portugal. Formalmente é uma república, culturalmente é um reino. Formalmente mantém uma elite influente (o sucedâneo da corte real, nobreza e clero próximos do Rei), culturalmente só respeita a ligação ao Rei na fórmula Rei-Povo, sem intermediários. O actual Presidente, pela sua própria personalidade, adaptou-se na perfeição a esse papel. A fórmula que Catalunha precisa é a que for mais interessante para se antecipar, como região autónoma, aos desafios financeiros e económicos, e depois políticos (CE, BCE, Eurogrupo, etc.) que se avizinham.
A Catalunha, como país e república, apenas é reconhecida por outras autonomias que desejam a independência. Até ver, Escócia e Québec. A UE nem quer ouvir falar de independências, só a palavra a arrepia. O Reino Unido também deve ter ficado arrepiado. Espanha treme e sofre. O discurso emocionado de Pedro Sanchez no Senado revelou o que devem estar a sentir os espanhóis com a possibilidade de uma separação de uma parte da Espanha. Utilizou a palavra "mutilada" para Espanha e para a Catalunha.
Vários mapas vão-nos esclarecendo sobre o nº de regiões que também desejam tornar-se independentes. Só em Espanha temos 3 autonomias com este projecto: a Catalunha, o país basco e a Galiza. O que me leva a pensar na importância da identidade cultural ainda hoje, como a identidade se mantém tão simbólica e territorial. O poder central de Espanha argumenta que os catalães já tinham conseguido níveis elevados de autonomia, como o catalão como primeira língua oficial, além de uma economia próspera, etc. E no entanto, parte dos catalães insiste em querer mais, querem ser reconhecidos como país e república. Como se houvesse aqui uma questão fundamental para a sua própria identidade. Será a recusa essencial da monarquia? Ou da cultura castelhana que ainda simboliza autoritarismo? Ou uma necessidade vital de concluir a história de um reino antigo, Aragão? Ou uma questão essencialmente territorial? E porque não considerar aqui o comportamento dos políticos, a corrupção política e institucional, não terá contribuído para esta demarcação cultural? Quem hoje se reconhece verdadeiramente nas elites políticas e mesmo na monarquia? É uma crise cultural mais profunda do que o poder central quer admitir. Também me questiono se a UE, ao não respeitar a diversidade cultural e a especificidade económica de países e cidadãos europeus, permitindo até preconceitos culturais, humilhando países do sul durante a "austeridade" sobretudo a Grécia, não terá contribuído para esta necessidade vital de ver reconhecida, simbólica e territorialmente, uma identidade cultural. Não seria óptimo se nos bastasse fazer parte de uma comunidade maior de europeus, e ver aumentadas as nossas possibilidades de segurança e prosperidade? Acontece que esse projecto europeu não foi nesse sentido de valorizar os cidadãos europeus na sua diversidade. Impôs a sua cultura financeira e centralizada aos países, sobretudo os do sul. A Grécia ainda hoje sofre às custas dessa cultura e dessa organização obsoleta e desequilibrada. Os partidos políticos convencionais também perderam credibilidade e legitimidade, começando a ser substituídos por movimentos reactivos e inflexíveis, a lembrar tempos pouco democráticos. Digamos que há uma crise cultural e política a atravessar a Europa.
Voltando a este pequeno país sonhado: Há especialistas de relações internacionais que consideram que o governo regional catalão não ponderou nas consequências económicas da sua iniciativa, nas consequências para a vida do dia a dia dos cidadãos. Outros inclinam-se mais a responsabilizar o governo de Madrid que não soube gerir toda a situação. Na lógica do poder (ler Arno Gruen) este torna-se mais perigoso quando começa a perder o pé. Havia motivo para aquela investida da Guardia Civil sobre manifestantes pacíficos? Qual é a racionalidade da humilhação de uma comunidade? Detendo políticos, invadindo locais de voto? A partir daqui, o que poderá acontecer? Falta inteligência emocional nas elites políticas, a capacidade de empatia, de lidar com comunidades, com pessoas e as suas expectativas. Agarram-se a textos, neste caso a uma Constituição obsoleta e desequilibrada, um double bind. Agarram-se à lei e a acordos assinados, como se eles próprios respeitassem a lei e os acordos. Agarram-se à ameaça, à chantagem, à demonstração de poder e de força e, em último caso, à violência. Pode a UE admitir outra demonstração de poder e de violência sobre uma comunidade pacífica? Pelos vistos pode. Como coloco sempre a hipótese do pior cenário, propus aqui uma nova estratégia inteligente de resistência pacífica, da rua para a consciência colectiva, utilizando todos os recursos ao nosso dispor, neurónios e novas tecnologias.
Tenho reflectido muito sobre o caso da Catalunha, o que me tem levado a reler Arno Gruen ("A Loucura da Normalidade", "A Traição do Eu", "Falsos Deuses").
A sua análise da lógica do poder é muito útil para perceber os estratagemas que utiliza para manipular, condicionar, dominar, destruir.
Já vimos a chantagem, a ameaça, a destruição de boletins de voto, a invasão de locais de voto, a agressão de manifestantes, a detenção de lideranças políticas e de Mossos de Esquadra.
A estratégia de manifestações pacíficas na rua, cordões humanos, simbólica e territorial, já não é eficaz aqui. Apenas servirá detenções, agressões e, pior do que isso, eventuais mortes.
No meio da agitação da rua surgem pequenos grupos violentos que se alimentam da violência e que aproveitam os tumultos para aumentar a violência.
A resistência pacífica tem de ser inteligente e passar a outro patamar, uma plataforma que utilize todos os recursos ao dispor dos cidadãos, a sua inteligência colectiva, consciência colectiva, colaboração, novas tecnologias de comunicação.
A inteligência colectiva, com a utilização optimizada das novas tecnologias de comunicação e das redes sociais é a estratégia mais eficaz.
A lógica do poder é mais perigosa quando começa a perder o pé. E a activação do art. 155 é a prova da sua fragilidade actual.
Depois do seu discurso o rei nunca mais será reconhecido como rei na Catalunha. E é aí que a legitimidade reside: na consciência colectiva. O seu discurso não inclui a comunidade catalã, as pessoas que encheram as ruas, as pessoas que queriam votar. Ao não as reconhecer como interlocutores e apenas referir a rebeldia do governo catalão, passou a não ser reconhecido como rei pelas pessoas. Isso foi verbalizado: "não falou para nós... só falou para os espanhóis". A fractura acentuou-se.
Se o governo catalão não soube prever e evitar os problemas que iria criar à sua comunidade autónoma, saltando por cima de uma constituição obsoleta mas ainda activa, Madrid errou clamorosamente. Revela tiques culturais de um tempo que a sociedade espanhola julgava ultrapassado, e vai ser confrontado internamente com essa tendência autoritária.