sábado, 28 de outubro de 2017

Catalunha: porque é que a identidade se mantém tão simbólica e territorial?





A Catalunha, como país e república, apenas é reconhecida por outras autonomias que desejam a independência. Até ver, Escócia e Québec.

A UE nem quer ouvir falar de independências, só a palavra a arrepia. O Reino Unido também deve ter ficado arrepiado. Espanha treme e sofre.
O discurso emocionado de Pedro Sanchez no Senado revelou o que devem estar a sentir os espanhóis com a possibilidade de uma separação de uma parte da Espanha. Utilizou a palavra "mutilada" para Espanha e para a Catalunha.

Vários mapas vão-nos esclarecendo sobre o nº de regiões que também desejam tornar-se independentes.
Só em Espanha temos 3 autonomias com este projecto: a Catalunha, o país basco e a Galiza. 
O que me leva a pensar na importância da identidade cultural ainda hoje, como a identidade se mantém tão simbólica e territorial.

O poder central de Espanha argumenta que os catalães já tinham conseguido níveis elevados de autonomia, como o catalão como primeira língua oficial, além de uma economia próspera, etc.
E no entanto, parte dos catalães insiste em querer mais, querem ser reconhecidos como país e república. Como se houvesse aqui uma questão fundamental para a sua própria identidade.

Será a recusa essencial da monarquia? Ou da cultura castelhana que ainda simboliza autoritarismo? Ou uma necessidade vital de concluir a história de um reino antigo, Aragão? Ou uma questão essencialmente territorial?

E porque não considerar aqui o comportamento dos políticos, a corrupção política e institucional, não terá contribuído para esta demarcação cultural?
Quem hoje se reconhece verdadeiramente nas elites políticas e mesmo na monarquia?
É uma crise cultural mais profunda do que o poder central quer admitir.

Também me questiono se a UE, ao não respeitar a diversidade cultural e a especificidade económica de países e cidadãos europeus, permitindo até preconceitos culturais, humilhando países do sul durante a "austeridade" sobretudo a Grécia, não terá contribuído para esta necessidade vital de ver reconhecida, simbólica e territorialmente, uma identidade cultural.

Não seria óptimo se nos bastasse fazer parte de uma comunidade maior de europeus, e ver aumentadas as nossas possibilidades de segurança e prosperidade?
Acontece que esse projecto europeu não foi nesse sentido de valorizar os cidadãos europeus na sua diversidade. Impôs a sua cultura financeira e centralizada aos países, sobretudo os do sul. A Grécia ainda hoje sofre às custas dessa cultura e dessa organização obsoleta e desequilibrada.
Os partidos políticos convencionais também perderam credibilidade e legitimidade, começando a ser substituídos por movimentos reactivos e inflexíveis, a lembrar tempos pouco democráticos.
Digamos que há uma crise cultural e política a atravessar a Europa.


Voltando a este pequeno país sonhado:

Há especialistas de relações internacionais que consideram que o governo regional catalão não ponderou nas consequências económicas da sua iniciativa, nas consequências para a vida do dia a dia dos cidadãos.
Outros inclinam-se mais a responsabilizar o governo de Madrid que não soube gerir toda a situação.
Na lógica do poder (ler Arno Gruen) este torna-se mais perigoso quando começa a perder o pé. 
Havia motivo para aquela investida da Guardia Civil sobre manifestantes pacíficos?
Qual é a racionalidade da humilhação de uma comunidade? Detendo políticos, invadindo locais de voto?

A partir daqui, o que poderá acontecer?

Falta inteligência emocional nas elites políticas, a capacidade de empatia, de lidar com comunidades, com pessoas e as suas expectativas.
Agarram-se a textos, neste  caso a uma Constituição obsoleta e desequilibrada, um double bind.
Agarram-se à lei e a acordos assinados, como se eles próprios respeitassem a lei e os acordos.
Agarram-se à ameaça, à chantagem, à demonstração de poder e de força e, em último caso, à violência.

Pode a UE admitir outra demonstração de poder e de violência sobre uma comunidade pacífica?
Pelos vistos pode.

Como coloco sempre a hipótese do pior cenário, propus aqui uma nova estratégia inteligente de resistência pacífica, da rua para a consciência colectiva, utilizando todos os recursos ao nosso dispor, neurónios e novas tecnologias.



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