quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ser criança hoje





Hoje a pergunta do dia do Sapo:
"A melhor coisa de ser criança é:
- não ter de trabalhar;
- ser o centro das atenções;
- ainda ter a vida toda pela frente; 
- não ter as preocupações e responsabilidades de um adulto;
- apesar de tudo prefiro ser adulto;
- poder fazer birras."
A minha opção é claramente "apesar de tudo, prefiro ser adulto". Comigo estão apenas 4% de outros adultos. Pelo mens, até agora. 

A infância é, sem dúvida, a melhor fase das nossas vidas, porque é determinante. Tudo é vivido mais intensamente, os sons são mais fortes, as cores são mais brilhantes, o riso é genuíno, assim como o sorriso, a alegria, mas também a tristeza, a dor, a impaciência, a frustração.
É preciso ter sorte para ser uma criança razoavelmente feliz, não ter nascido num país em guerra, ou afectado pela austeridade financeira, ou num ambiente conflituoso, ou numa comunidade hostil. E mesmo com sorte, todos os cuidados não são demais. Sem se cair na superprotecção, estar atento e vigilante. 
Exercer a autoridade não é moldar uma criança a um formato social ou aos seus próprios objectivos. Quanto melhor tiverem resolvido esse conflito essencial com os próprios pais, melhores pais serão. Como é a vossa criança? É que cada criança é uma unidade complexa a aprender rapidamente a viver no mundo, e todas são diferentes. Mesmo os irmãos são todos diferentes. A forma como se lida com cada um também se deve adaptar a cada um. Pode exercer-se a autoridade de forma firme com um e pode ter de se explicar tudo muito bem a outro até ele compreender.
Aceitar a sua criança com as suas próprias características é respeitá-la, amá-la incondicionalmente, ajudá-la e desafiá-la num ambiente ameno e acolhedor. A sua criança irá ter desafios pela frente, viverá o medo, a angústia, a insegurança, o stress. Saber que tem uma base de apoio em casa é a melhor fonte de energia e de coragem para enfrentar esses desafios.
E é aqui que tudo se complica para uma criança. Está no auge da sua inteligência, da sua capacidade de aprender coisas novas, de criar, de inventar, e está sujeita a situações que a vão condicionar e limitar. Enquanto um adulto se pode defender do bullying ou da humilhação por exemplo, uma criança pode ficar traumatizada para sempre.

Será o mundo actual amigo da infância? No geral, não é. Podemos pensar que já foi muito pior no passado, sem dúvida. E não é preciso recuar muito. A revolução industrial já bastaria para a nossa comparação, o trabalho infantil, a fome, as doenças. Mas não é essa a comparação necessária. A comparação honesta e responsável só pode ser com a carta dos direitos da criança
E aqui, caros Viajantes, chegamos à conclusão que, apesar dos progressos sociais, da saúde, da educação, as nossas crianças não estão devidamente protegidas. O exemplo dos refugiados é gritante. Se não fossem os italianos e os gregos, como teria sido a sobrevivência de tantas famílias a fugir da guerra? Assim como a austeridade recente, ao menor desequilíbrio financeiro, e debaixo de governos-troika como o anterior, as famílias viram-se desapossadas do seu rendimento e da sua vida organizada, quantas das suas casas, e muitas tiveram de emigrar.
Relatórios revelam que as crianças e os velhos são os mais vulneráveis em situação de crise económica. Precisamente os grupos que deveriam ser mais protegidos. É por isso que não podemos deixar de desejar que lideranças culturais como o Papa Francisco sejam ouvidas.


Post publicado n' As coisas essenciais.



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