sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Viajo no tempo todos os dias





A possibilidade de viajar no tempo já não me entusiasma como há uns tempos atrás. Mesmo que sempre me tenha virado para o futuro.
Há a impossibilidade física (transformação molecular) e biológica (sobreviver a vírus).
Resta aperfeiçoar os simuladores e virá-los para o passado e para o futuro próximo.

De qualquer modo, viajo no tempo todos os dias. Sempre que ouço as notícias ou ouço um comentador, lá sou arrastada para os anos 80. 
América, conferência de imprensa para jornalistas creditados na Casa Branca, anos 40. 
França, eleições presidenciais, a candidata da máquina eleitoral bem oleada e financiada, anos 60.

Ontem vi um filme-documentário, Memórias de Xangai, de Jia Zhangke, e aí deu-se um fenómeno interessante: o tempo misturou-se num turbilhão, o tempo imperial enrodilhou-se com a revolução cultural e quem sofre é sempre o homem comum: a guerra civil, a morte e as cicatrizes.
A China continua a ser um enigma. Uma cultura milenar que sobrevive nos neurónios das novas gerações.
É essa a verdadeira viagem no tempo: o sofrimento e a alegria viajam de geração em geração, no próprio corpo.
A China está virada para o futuro porque teve uma vida muito longa, agora pode virar-se para as gerações do futuro, são elas que a continuam. É como os avós olham para os netos.

Na idade impressionável li Pearl Buck, sobre essa China de contrastes gritantes, de fome, de trabalho escravo. É a voz de uma americana, mas uma voz que amou a China.
A seguir peguei no livro A Colina da Saudade de Han Suyin. Uma Hong Kong ocidentalizada, um jardim de colinas sobre o mar onde habitam os pobres em barquinhos. A parte do livro que me fascinou foi a parte da revolução cultural e como afectou muitas famílias, sobretudo os intelectuais. E há ainda outra parte do livro, sobre a cultura familiar tradicional na China, em que não escondem a realidade da vida às crianças, como fazem os ocidentais. As crianças participam nas conversas dos adultos.

Hoje já não precisamos de nos sentir divididos entre culturas e entre diversos tempos, podemos escolher a cultura que melhor ressoa nos nossos neurónios e, com sorte e disponibilidade, podemos evoluir e até inovar.
A fórmula que melhor nos convém hoje é a de pessoas livres: identificação cultural - colaboração - inovação cultural.








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