terça-feira, 11 de outubro de 2016

As novas tecnologias não escondem a cultura subjacente





É raro ver uma situação social e económica tão mal gerida como esta actual dos táxis vs carros não identificados de transporte de passageiros.
Como a maioria dos consumidores de notícias, debates televisivos, discursos directos e redes sociais é acrítica, não observa nem reflecte, aderiu de imediato às plataformas sem questionar o que está por trás.
É por isso que o barómetro do Prós e Contras apontou para as plataformas.
E é por isso também que nas redes sociais se multiplicaram opiniões insultuosas e agressivas contra os táxis.

Há plataformas e plataformas. Há aplicações e aplicações. As novas tecnologias não escondem a cultura subjacente. Como não escondem o tipo de economia que praticam. 
A estratégia é invariavelmente a mesma: entra-se num sector de mercado com o inatacável argumento de facilitar a vida ao consumidor, poupar tempo e dinheiro, utilizando as novas tecnologias, e empurram-se os que já existem para dentro ou para fora. O céu é o limite, tudo pelo progresso, afinal estamos no séc. XXI, tudo pela liberdade de mercado, pelo bem-estar do consumidor, quantos mais melhor.
A cultura subjacente é apenas e tão somente a mais pueril e selvagem: o lucro fácil e garantido pelo menor esforço de investimento e pela menor preocupação com a segurança do próprio consumidor.

Por isso soa tão estranha a atitude dos responsáveis do governo pela gestão deste conflito social e económico. Desde a sua ignorância, ausência de visão e de cultura do interesse público, até à sua arrogância, cinismo e mesmo falta de respeito pelo cidadão que paga impostos, neste caso pelo motorista de táxi e pelo consumidor. 
Um gestor público deve prevenir problemas em vez de os agravar. Qualquer liderança com um mínimo de empatia e de bom senso teria percebido que um sector fragilizado e em desespero age de forma emocional. E quem sabe se isso não faria parte da estratégia para as negociações - e assim se entenderia a oferta dos 17 milhões? Pior é impossível.

Esperemos que o PM, quando aterrar da China, consiga desenredar e clarificar esta triste situação. O governo tem promovido a cultura da sensibilidade pelas questões sociais e o respeito pelos mais vulneráveis. 
Não se trata, por isso, de um sector obsoleto vs um sector futurista, trata-se de duas culturas de base perfeitamente identificáveis. 
No essencial, há 2 tipos de tendência da economia de séc. XXI: uma, selvagem e desregulada, sem responsabilidade social; outra, equilibrada, sustentável e responsável. Uma, anónima e impessoal; outra, identificada e de confiança.
Que tipo de economia quer o governo promover?




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