sexta-feira, 23 de setembro de 2016

É difícil debater a justiça fiscal em Portugal

É difícil debater a justiça fiscal num país que ainda não se habituou a uma cultura democrática de negociação permanente na procura de um equilíbrio, num país em que as vozes que são ouvidas são precisamente as das classes privilegiadas e influentes.


Estas vozes elevam-se, transportadas pelo diapasão dos media, face à possibilidade de um imposto sobre o património acima de um determinado valor.
Aqui d'el Rei!, os revolucionários que odeiam os ricos e a propriedade!, este é um preconceito cultural que se mantém e que já não cola à realidade actual.

Quando os impostos incidiram sobretudo sobre o trabalho, quando inclusivamente se cortaram salários, as reacções emotivas tinham razão de ser.
Mas não foi isso que vimos acontecer, muitos cidadãos perderam o trabalho e a casa, recorreram à família e à solidariedade da comunidade, refugiaram-se na dignidade do silêncio, fizeram as malas e partiram.

Há uma nobreza especial nos cidadãos comuns que não vemos nas actuais elites sociais.
Uma capacidade de resistência na dor e no fracasso, um desejo de colaborar e ajudar quem mais precisa, uma sede de esperança, de se voltar para o futuro, porque não se podem dar ao luxo do queixume e da desistência.

Quem vive do salário mínimo, se levanta cedo para apanhar transportes públicos, se movimenta todo o dia para regressar a casa já noite, acham que tem tempo para sequer pensar nas injustiças sociais?
Claro que há preconceitos culturais relativamente aos ricos. Mas também há um fascínio infantil alimentado pelos media.

Sempre que se utiliza a palavra "rico" e a palavra "pobre" há um preconceito cultural envolvido. Podemos então falar de qualidade de vida ou ausência dela.
Mas a palavra "pobreza" e a palavra "fome", que desejaríamos datadas no tempo, são necessárias para definir a ausência de bens essenciais para a vida.

O desafio é muito claro: uma política económica inteligente, sensata, eficaz, que promova a qualidade de vida dos cidadãos e que não penalize o trabalho, a poupança, o investimento e o crescimento económico.






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