terça-feira, 22 de abril de 2014

O novo mundo descentralizado e o novo equilíbrio instituições - indivíduos





Começamos a percepcionar à nossa volta um novo mundo que começa a sobrepor-se ao que nos têm imposto como único. Este novo mundo está já a alterar as nossas vidas e a lógica de certas áreas de actividade. Também se alteram as relações entre produtor e consumidor. Assim como o equilíbrio global - local, corporações - comunidades, instituições - indivíduos. Todas estas alterações terão um impacto na economia, na finança, na política, as áreas onde o poder se tem concentrado.
E no entanto, estas áreas onde o poder se tem baseado mantêm a sua lógica obsoleta e um discurso desfasado da realidade actual, insistindo que somos nós que temos de nos adaptar.

No nosso país, por exemplo, esta desfocagem do essencial e da realidade que já nos estrutura hoje, revela-se dramática porque estamos a esgotar um tempo precioso, uma janela de tempo que se encurta a cada dia que passa.
O tema actual no país é, compreensivelmente, o balanço de 40 anos do 25 de Abril, até porque se verifica uma distância cada vez maior partidos políticos - cidadãos eleitores. A democracia vive aqui tempos de uma fragilidade enorme em termos de representatividade e legitimidade. Um dos nossos especialistas na Constituição, Freitas do Amaral, aponta mesmo para a necessidade de se formarem novos partidos, para se recriar um novo sistema democrático representativo.
Já poucos acreditam que os actuais se consigam reformar por dentro.

Nesta nova tendência da descentralização, vemos em contra-mão a UE, uma organização pesada, complexa, burocrática, que também se distanciou dos cidadãos europeus e que sempre evitou dar-lhes voz em questões fundamentais. Agora depara-se com o preocupante cenário do ressurgimento de extremismos políticos.
Um novo equilíbrio instituições - cidadãos vai implicar necessariamente uma mudança na UE e no euro. Menos poder centralizado em gabinetes, aliás menos gabinetes e menos funcionários, mais flexibilidade e proximidade com os países, regiões, comunidades. A relação entre países e regiões só pode melhorar com uma descentralização progressiva. 
Portanto, não são os cidadãos que se terão de adaptar ao mundo que nos querem impor, dos mercados, dos grandes bancos, dos grandes grupos económicos, das troikas e dos governos que lhes prestam vassalagem. São precisamente esses grupos que se terão de adaptar ao novo mundo que já nos rodeia.   

Agrada-me pensar que o novo mundo descentralizado, de pessoas e comunidades ligadas em tempo real, permite maior capacidade de cada um organizar a sua vida de forma satisfatória e gratificante. Visualizo esse novo mundo potencialmente inclusivo, na lógica da colaboração e partilha. A minha esperança baseia-se na constatação que as pessoas comuns se relacionam melhor entre si do que as instituições e corporações. 
Posso destacar vários exemplos que propositadamente vou seleccionar à área da filantropia. Porquê? Porque a lógica do mundo que nos querem impor está de tal forma impregnada culturalmente que até nesta área da beneficência, fazer o bem digamos assim, mantém-se uma espécie de propaganda e marketing, mas também de um neo-colonialismo subliminar:


Se repararmos, a palavra "pobre" estigmatiza e diminui o outro em vez de o animar e fortalecer. É a atitude paternalista de quem se dirige a alguém que precisa de ser ensinado e apoiado. Não há uma troca de experiências e sabedoria, não há uma relação entre iguais na sua condição humana. 
O caso dos inúmeros campos de refugiados é outra mancha na dignidade humana. Há campos que se mantêm passados muitos anos da intervenção de emergência, como é o caso do Haiti, onde muitas famílias vivem ainda em tendas e pagam renda por isso... isto é, há quem lucre à custa da manutenção de uma situação precária e frágil.
Escolhi este exemplo de uma família síria apanhada numa tragédia mais recente:


  

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