terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O fim de uma época

É estranho como certos momentos que consideramos secundários acabam por despertar emoções que julgávamos esquecidas: a sensação acolhedora de uma atmosfera que nos foi familiar, a alegria de nos sentirmos de novo acompanhados, valores que nos são caros embora já desaparecidos.

Esta série O Fim de uma Época veio surpreender-me sem aviso. É mais uma série de romance histórico da BBC, pensei. É que, desde que que vi aquele inenarrável Henrique VIII que não me refiz do choque. Além disso, a tão famosa Downtown Abbey também me provoca alergias. 

Foi, pois, com pouco entusiasmo que encarei este 1º episódio. Para logo no início me deixar envolver nessa atmosfera:
Há cenas que são verdadeiras cápsulas do tempo: o nosso herói é especialista em estatística, lida com a precisão dos dados e, tal como hoje, os políticos pressionam-no para a sua manipulação ou, pelo menos, cosmética adequada; além disso, segue ainda valores de uma velha aristocracia, já praticamente desaparecidos da sociedade do seu tempo; é, pois, facilmente enganado e utilizado pela mulher com quem casa e cujo filho nem sabe se é seu, mas o mais interessante é que esse é o pormenor que menos o incomoda; a sua inteligência leva-o a coleccionar e a relacionar dados aparentemente desligados e a retirar conclusões precisas, tal como a sua previsão de uma guerra que irá acabar com a cultura decadente que o rodeia; ficará fascinado com a aparição inesperada da rapariga rebelde no campo de golfe, que defende o direito para as mulheres mesmo com o risco de prisão; e ficamos a saber que o encontro destes dois surge na impossibilidade e que é essa impossibilidade que o torna tão poético e triste.

Que emoções que julgava esquecidas veio esta série despertar?
De certo modo, também nós assistimos ao fim de uma época, e não me estou a referir ao plano económico, no sentido da programação para a pobreza, actualmente tão em voga nos políticos que nos querem adaptar a uma vida abaixo de qualquer expectativa decente. 
Refiro-me a uma nostalgia, tanto doce como amarga, pelo fim de uma época em que ainda se dava algum tempo-espaço a conversas e a silêncios, à alegria de uma companhia, tal como estes dois no regresso pelo caminho envolto em nevoeiro.

Tal como acontece com o nosso herói, a histeria pueril rodeia-o por todos os lados: na mulher que o desrespeita e humilha, nos seus pares, na incapacidade dos políticos cumprirem a sua palavra.
Os valores que estruturaram uma civilização milenar, pedra a pedra (a casa), árvore a árvore (o grande cedro), da tradição oral ao manuscrito e ao livro, é tudo para atropelar pela nova normalidade (expressão ouvida cá dentro no nosso país mas que pode ter sido importada da Europa ou da América).



Este ano marca o centenário do início da 1ª Grande GuerraTalvez por esse facto têm surgido paralelismos com a nossa época actual. 
É verdade que o mundo se está a organizar em grandes blocos poderosos, sobretudo no hemisfério norte, a lembrar grandes placas tectónicas prestes a colidir na apropriação e reclamação de recursos estratégicos. Actualmente o que se pressente no ar é mais da dimensão de revolta social e/ou da violência urbana. Mas não se excluem conflitos cirúrgicos em zonas estratégicas, e que Deus valha aos habitantes dessas regiões estratégicas! Já estamos a ver isto em determinadas regiões do planeta, e pressentimos que o mesmo pode vir a suceder noutras regiões.



Sem comentários:

Enviar um comentário