quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Do activismo organizado às comunidades criativas

Tem sido através do Twitter que tenho recebido informação do que se passa. Ver notícias tornou-se demasiado deprimente. Já vi o filme. É fácil projectarmo-nos num futuro próximo, digamos ao longo de uma década, no país e na Europa.
O que estão a fazer ao país? Que país irreconhecível vai sair da continuação da gestão danosa dos políticos profissionais actuais, dos tecnocratas da UE e dos técnicos do FMI?
Regiões sacrificadas (do termo sacrifice zones de Chris Hedges) e gerações sacrificadas em nome de quê?, é um tema a que me irei dedicar a seguir, a propósito de informação divulgada pela Pordata sobre o envelhecimento do país e taxa de natalidade. 

Mas hoje é sobre esta súbita preocupação do poder oficial sobre a sua perda de expressão popular, que o mesmo é dizer, perda da sua legitimidade democrática.

A OECD organizou um forum aberto sobre esta questão, mas parte da variável errada, a meu ver: os governos podem fazer mais para recuperar a confiança.
Só uma mudança cultural profunda, acompanhada por uma mudança do equilíbrio de forças, social, financeiro e económico, pode alterar este declínio inevitável da confiança nos políticos profissionais. E não é só nos políticos, é nas personagens que representam: os tecnocratas europeus, os técnicos do FMI, os representantes da alta finança.
É por isso que duvido da eficácia deste forum na recuperação da confiança perdida, mesmo que se tente uma aproximação à sociedade civil. Sem uma cultura de base favorável ao equilíbrio saudável e à partilha de poder nas grandes decisões colectivas, não existe a possibilidade de recuperar os próprios princípios em que se baseia a democracia.
É essa cultura que começamos a ver surgir naturalmente, como capacidade de adaptação ao desenvolvimento científico e tecnológico, nos mais diversos locais, nas redes sociais, na informação partilhada, no investimento directo em projectos.

Outra grande mudança cultural que vemos emergir e que irá, a meu ver, alterar o equilíbrio do poder nas comunidades locais mas também nas comunidades virtuais, é a transição do activismo organizado para comunidades criativas. Um exemplo muito interessante e significativo é o do grupo Occupy Wall Street. Embora a utilização de máscaras, o anónimo, não me agrade pessoalmente (nunca gostei de máscaras, nem no Carnaval), esta iniciativa inteligente e criativa já antecipa outras do género: eficazes na informação aos cidadãos e na rapidez da acção concreta. Em breve veremos simples cidadãos a ajudar-se mutuamente na sua defesa dos apertões governamentais e financeiros. É a nova participação cívica, uma cultura da colaboração. 

Resumindo, uma cultura comunitária sem os constrangimentos geográficos e culturais das antigas comunidades essencialmente conformistas e com regras rígidas para garantir a sua sobrevivência e segurança. A nova cultura comunitária respeita a diversidade, é naturalmente democrática, valoriza a informação partilhada e o equilíbrio saudável do poder social, económico e financeiro como bases fundamentais da qualidade de vida tendencialmente universal.
   


Sem comentários:

Enviar um comentário