quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O verdadeiro papel das máquinas governamentais a partir da análise de duas estratégias: shutdown e austeridade

Um dos grandes equívocos culturais actuais é o papel das máquinas governamentais e dos políticos. A total ausência de mecanismos de avaliação e de responsabilização da sua actuação e intervenção na gestão dos recursos de países e comunidades. As suas opções e prioridades. As suas agendas escondidas.
Quando lemos sobre o recente shutdown (a meu ver, estratégico), de serviços governamentais americanos, começamos a perceber que a situação é mais complexa do que um braço de ferro entre uns e outros, entre os bons e os maus, entre as boas intenções e as más. 
Para percebermos melhor esta estratégia, temos de fazer rewind no vídeo: observar a acção, as opções e prioridades do governo. O que vimos acontecer até aqui depois dos discursos brilhantes e empolgados? Uns são protegidos, outros abandonados, e isto sistematicamente. Também temos visto como as máquinas governamentais são lentas e obsoletas para tomar decisões vitais para os cidadãos e as comunidades, mas rápidas e tecnicamente avançadas para carregar nos botões certos e saltar barreiras legislativas quando se trata dos poderosos e influentes.
A questão é cultural, social, civilizacional. Os governos servem grupos que detêm o poder.

É assim também com outra estratégia, a austeridade, outro grande equívoco cultural que já configura uma grande fraude ou, pelo menos, um grande esquema. Trata-se simplesmente de passar recursos de um lado para outro, e não se ficam por aqui, já se começa a perceber que este caminho é insaciável, está imparável, descontrolado.

Depois de destruir toda uma base cultural e civilizacional europeia, aliás a base onde foi possível criar a UE, pensam estes políticos-tecnocratas que é possível vender a ideia aos cidadãos europeus da viabilidade da marca UE? 
Se fecharmos o som aos seus discursos repetitivos, começamos a ver todo o filme: o que estão a construir sobre as ruínas da UE é qualquer coisa de muito diferente do projecto inicial. Nada tem a ver com a cultura de base, os valores, a organização social, o estilo de vida dos cidadãos europeus. É outra coisa, outro cenário. 
Para vislumbrar esse cenário, basta prolongar no tempo esta agonia da destruição progressiva e sistemática de serviços públicos, de protecção dos mais frágeis, de oportunidades de trabalho com condições dignas, do êxodo de técnicos do sul para o norte. Basta prolongar no tempo o discurso político da chantagem: não se paga a dívida, não se recebem salários nem pensões. 
Se fecharmos de novo o som aos discursos, e nos projectarmos no futuro próximo, o que veremos acontecer? Para a maioria dos cidadãos fecham-se as portas e as janelas dos serviços, é a exclusão, mas a máquina governamental e os seus tentáculos permanecem incólumes. É essa maquinaria que sobrevive. É a maquinaria da UE e os seus gabinetes labirínticos, os seus auditórios, as suas mesas de reuniões e toda a maquinaria dos seus tentáculos, os governos dos países-membros. É toda uma estrutura que serve os interesses de grupos financeiros-corporativos e que se baseia ilegitimamente num projecto inicial que já destruíram.

Para vos desafiar a observar e a analisar esta profunda alteração cultural e civilizacional:








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