terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Como nos podemos preparar para um ano tão incerto como 2017?


Haverá muitas pessoas por esse mundo fora a desejar que o novo ano seja anunciado o mais depressa possível. Para muitos 2016 trouxe desgostos e preocupações. Cidades sitiadas, terramotos, atentados, o Brexit, Trump. Foi um ano estranho, em que o inesperado se revelou, como nos filmes de terror.

No nosso cantinho, na ponta oeste da Europa, o ano foi muito melhor do que 2015, de tal modo melhor que nem tem comparação. Depois de um pesadelo de 4 anos e da visão desmoralizadora de não ter forma de ver o seu fim, abriu-se uma janela, refrescou-se o ar, os rostos iluminaram-se, foi o nosso golpe de sorte.
Portugal foi um dos poucos exemplos de um bom 2016. Digamos que 2016 foi para nós um intervalo entre o filme de terror e o filme de acção que aí vem. 2016 foi uma espécie de comédia romântica. Pela primeira vez olhámos para nós e achámos que ainda estávamos em forma, que a nossa casa era um jardim, que amanhã seria melhor do que hoje. 
Para mim tem sido uma experiência inédita: gostar do governo e do Presidente. Nunca me aconteceu ver no poder um governo e um Presidente que respeitam os valores da democracia e a cultura da colaboração.
É por isso que vejo aproximar-se 2017 com a apreensão que se tem nos filmes de suspense de Hitchcock: já vemos a trama formar-se, os actores já foram escolhidos, as personagens prometem surpreender-nos e até escandalizar-nos. Os temas estão lá todos: intriga internacional, vertigem, a corda, os pássaros!

A Europa está naquela fase em que tanto pode segurar-se e escolher outras soluções de colaboração entre países e comunidades, como pode perder tudo e cada um tentar sobreviver ao desmembramento da forma menos dolorosa possível.

Os States vão atravessar um período estranho: o contraste entre a liberdade adquirida e a nova caça às bruxas, entre a comunicação ágil das redes sociais e a propaganda e desinformação oficial, entre a diversidade própria de comunidades sofisticadas e democráticas e a massificação e divisão próprias de formas de organização ditatorial, entre a cultura do séc. XXI e a formatação mental do séc. XX.

O resto do planeta também deve estar em suspense. Uns a esfregar as mãos, outros a afiar o dente, muitos muitíssimos a dar as mãos. 


Porque escolhi a corda, precisamente a corda, para tentar responder à pergunta "como nos podemos preparar para um ano tão incerto como 2017?"
Pela destreza única de Hitchcock em nos revelar como certas ideologias fascizóides podem insinuar-se subrepticiamente nas sociedades modernas, mesmo naquelas que consideramos culturalmente sofisticadas e preparadas para descodificar e desmontar a sua ideia base, os seus pressupostos.
É isto que, a meu ver, precisamos de pensar: valorizar, nos programas educativos, nos jogos interactivos, nas séries de culto, formas de descodificar e desmontar as ideologias da morte e da destruição, os "falsos deuses" segundo Arno Gruen.


Post publicado n' As Coisas Essenciais.


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