terça-feira, 28 de julho de 2015

A propaganda eleitoral da coligação baseada na lógica dos benefícios da austeridade

Para entreter a classe média que paga impostos, o governo colocou ou vai colocar um simulador na sua conta fiscal. Assim, o contribuinte pode fazer as continhas a um possível alívio fiscal no ano que vem se o governo arrecadar mais receita fiscal do que o previsto. A esta probabilidade chamou o governo manhosamente crédito fiscal.

Mas o cinismo não se fica por aqui. O governo gaba-se de ter reduzido o desemprego saltando por cima do emprego destruído, do falso emprego, do subemprego, e da emigração.
E vai mesmo mais longe: não vai cortar nas pensões, a mesma promessa de 2011.
A pedra de toque foi a proposta de lei anti-corrupção, mais uma que foi chumbada pelo tribunal constitucional e que, segundo um jurista ouvido na Sic Notícias, consegue ser pior do que a proposta há uns anos pelos socialistas. De qualquer modo, o que importa é que os cidadãos fiquem com a ideia que a coligação se preocupa com a corrupção...

Se estivermos bem atentos, começamos a perceber que há omissões nos discursos de propaganda governamental. Já aqui referi uma: a composição da dívida.
Mas há mais: as privatizações; os negócios privados com recursos públicos; as falhas na supervisão bancária; as fraudes financeiras; a grande evasão fiscal...

Entretanto, a coligação governamental apresentou as listas das personagens que propõe para a assembleia da república, reforçando a ideia que a equipa fez um bom trabalho e merece continuar no poder.

As palavras-chave que iremos ouvir repetidas: confiança dos mercadosrecuperação económicaredução do desemprego; e, mais recentemente, prudência.

Também ouviremos, se quisermos: era uma vez um país que vivia acima das suas possibilidades. Era governado por um partido que nos levou à bancarrota e tivemos de ser salvos pela solidariedade europeia. Para ganhar a confiança dos mercados, tivemos de cortar nos salários, nas pensões, nos subsídios, na saúde e na educação, e subir os impostos. Agora já podemos começar a dar o que tirámos, mas às prestações.

Paradoxalmente, esta lógica dos benefícios da austeridade, do caminho certo, das continhas bem feitas, de pagar o que se deve, de não viver acima das nossas possibilidades, soa muito bem à cultura tradicional da classe média. A classe média que foi precisamente a que pagou a factura.
Hoje o que vemos? Uma pequena minoria cada vez mais rica e uma grande maioria cada vez mais pobre: as desigualdades sociais agravaram-se.

Não nos podemos admirar, pois, que haja uma enorme percentagem de indecisos a dois meses das eleições.










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