sexta-feira, 13 de junho de 2014

Santo António e a condição humana




Saiba quem busca milagres que os enfermos sara António... é assim que começa o Responso a Santo António que mais parece um poema popular medieval.
Quase conseguimos, através do poema, acompanhar as vidas difíceis, a luta pela sobrevivência, de povos inteiros. A sua busca de um abrigo, de um alívio. Quase imaginamos as suas ruas estreitas e ruidosas, os cheiros fortes, a agressões, os pequenos roubos, as correrias das crianças sujas, o medo sempre presente. A grande maioria das populações passava fome e privações, trabalhava de sol a sol, era maltratada. As pessoas estavam entregues à sua sorte e à generosidade de algumas almas bondosas.

António é uma referência de bondade que se mantém viva há séculos. Só a bondade permanece viva nos corações humanos. Podem ter passado reinados, impérios, personagens importantes, ninguém os recorda com esta confiança e carinho pelos séculos sem fim. A bondade é muito mais forte do que a linguagem do poder.

António é também um homem universal, sem fronteiras nem preconceitos, para quem a única forma de viver é o amor universal. Esta é também uma das nossas formas de viver, a universalidade, o reconhecimento de que somos todos seres humanos, com a mesma condição.

O que nos rodeia e domina é a divisão, o conflito, o poder de uns sobre outros, a agressividade, a humilhação.
A cultura do objecto sobrepôs-se à cultura da vida, o dinheiro vale mais do que as pessoas, pratica-se a usura como se fosse uma ciência.  
Tudo é produto num mercado de consumo, vidas, pessoas, trabalho, informação.
Esta cultura é também a celebração da negação da nossa condição humana, da nossa fragilidade e desamparo. Procura-se manter a ilusão de que a ciência e a tecnologia, as coisas, são os verdadeiros milagres. Mas não são. Os verdadeiros milagres são os da vida, de uma consciência abrangente, do amor universal.


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