O movimento En Marche! é um fenómeno social e político do séc. XXI.
É certo que as circunstâncias foram favoráveis: os partidos convencionais deixaram de traduzir e representar as expectativas legítimas das populações, a UE adulterou o seu projecto fundador e Le Pen continuou a atrair os votos da revolta e do medo.
Características essenciais para o movimento En Marche! ter conseguido esta mobilização:
- há um programa que é apresentado e que se manterá coerente ao longo do seu percurso. Esta autenticidade e transparência é fundamental. Mais tarde haverá lugar à negociação com opiniões diversas, dependendo dos resultados nas legislativas;
- é um movimento cívico, baseado na participação activa das populações e construído com o voluntariado e disponibilidade dos seus membros, para todas as tarefas de informação e divulgação. Aqui reside a base da sua credibilidade;
- tem uma cultura inclusiva, que respeita a diversidade, e igualitária, que acolhe todas as pessoas que se reconhecem no seu programa e nos grandes objectivos. Esta é a primeira base da construção de uma legitimidade governativa.
Reparem nas grandes diferenças culturais de um movimento cívico e dos partidos convencionais:
- autenticidade: nos partidos convencionais vemos sobretudo políticos centrados na sua própria carreira política, com discursos oportunistas. Alguns, raros, até podem ser pessoas simpáticas e quase acessíveis, mas estão formatados pela cultura partidária. Exemplo muito recente: Manuel Valls não percebe que ainda não conquistou a credibilidade e legitimidade para se candidatar directamente às próximas legislativas pelo REM :) (République En Marche!), continuando a pensar pela lógica partidária. :) Na cultura do movimento cívico é um cidadão como todos os outros, um membro activo, mas terá de fazer caminho;
- coerência: também vemos nos partidos convencionais uma distância enorme entre a teoria e a prática. Muitas promessas são construídas e apresentadas com o objectivo único de conquistar votos. Este tempo está esgotado. Não há lugar para equívocos e/ou incompetências. Está em jogo a vida concreta das pessoas e as suas expectativas legítimas. Digamos que as pessoas se tornaram mais exigentes com a gestão política;
- transparência: na política partidária convencional há uma cultura de grupo, às vezes de seita, um grande secretismo. Há informação privilegiada e troca de favores. Normalizaram-se práticas eticamente reprováveis. Há uma discrepância enorme entre essa cultura e os valores da democracia e da República, tão cara ao franceses (liberdade, igualdade, fraternidade). E também na UE, tornou-se insuportável o desvio relativamente aos seus valores fundadores;
- participação activa das populações: enquanto os partidos tradicionais pediam o voto e depois governavam por nós, como um cheque em branco, um movimento cívico pede a participação e a responsabilidade das populações. Há uma mobilização dos seus membros que são preparados para mobilizar as comunidades. E não apenas no início do movimento, é um compromisso de continuidade, é uma construção de comunidades activas e criativas;
- cultura inclusiva e igualitária: estas características são as mais difíceis de perceber pela cultura partidária.
- cultura comunitária e de partilha: mais importante do que a carreira individual (cultura partidária) é a eficácia da gestão colectiva. No exemplo de Manuel Valls, alguém terá de lhe dizer que avançar agora dá um sinal errado aos membros e aos votantes no REM :);
Sempre que um movimento cívico fica pelo caminho, alguma destas condições falhou. :)
E nós queremos que seja bem sucedido, pelos franceses em primeiro lugar, pelos europeus em segundo, e pelo equilíbrio de poderes mundial.
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